Nascida no
dia 4 de abril de 1914, a escritora nascida em Saigon (hoje Ho Chi Minh)
e radicada na França completaria hoje 100 anos. Autora de uma obra
multifacetada que percorre gêneros tão diversos quanto o teatro, o
romance e o roteiro de cinema, foi considerada um dos principais nomes
do movimento nouveau roman.
O catalão Enrique Vila-Matas narra em Paris não tem fim o
início de sua carreira de escritor, quando foi para a capital francesa e
alugou um quarto com ninguém menos que Marguerite Duras. A escritora
foi marcante – para não dizer fundamental – na formação literária de
Vila-Matas, e o mesmo podemos dizer acerca de uma legião de autores que
foram inspirados pela prosa única de Duras. Em um ensaio traduzido ao português pela Folha de S. Paulo, Vila-Matas diria:
“Com a escrita de Duras acontece o que ocorre com a primeira frase de A Metamorfose
de Kafka. Quando lemos que um jovem funcionário acorda em sua cama
transformado num inseto, só temos duas opções: fechar o livro incrédulos
e não continuar ou crer nessa estranha verdade de Kafka e continuar
lendo. Creio que a escrita de Duras só permite aos leitores duas opções:
amar essa escrita ou odiá-la profundamente. Não há meio-termo com ela.
Eu a adoro. Tem a beleza do literariamente infinito. A poesia de sua
escrita me fascina e por vezes me levou à emoção e ao choro”.
É em homenagem ao centenário de Duras – e aos inícios fortes e impactantes – que transcrevemos abaixo o começo de O amante, obra capital da escritora que foi relançado pela Cosac Naify em edição portátil e e-book:
“Um dia, eu
já tinha bastante idade, no saguão de um lugar público, um homem se
aproximou de mim. Apresentou-se e disse: ‘Eu a conheço desde sempre.
Todo mundo diz que você era bonita quando jovem; venho lhe dizer que,
por mim, eu a acho agora ainda mais bonita do que quando jovem; gostava
menos do seu rosto de moça do que do rosto que você tem agora,
devastado’.
Penso com
frequência nessa imagem que sou a única ainda a ver e que nunca
mencionei a ninguém. Ela continua lá, no mesmo silêncio, fascinante.
Entre todas as imagens de mim mesma, é a que me agrada, nela me
reconheço, com ela me encanto.
Muito cedo
foi tarde demais em minha vida. Aos dezoito anos já era tarde demais.
Entre os dezoito e os vinte e cinco anos, meu rosto tomou um rumo
imprevisto. Aos dezoito envelheci. Não sei se isso acontece com todo
mundo, nunca perguntei”.
(Extraído do blog Autores e Livros)